Penso bastante (até mais do que devia) em como virar vagabundo, parar de trabalhar por dinheiro e viabilizar uma vida pós-IF. Basicamente consegui pensar em 2 modelos até agora:
1. Múltiplas fontes de renda passiva, depositando dinheiro na minha conta mensalmente
2. Diversos "baldes" de dinheiro, alocados por prazo e/ou percentual, de onde eu iria retirando à medida que precisasse
Por enquanto só consegui detalhar algo baseado no modelo 1. Apesar de ainda ter algumas lacunas e incertezas, como parte da premissa do blog de mostrar minha jornada rumo à IF e trocar idéias com outros aspirantes a virar vagabundo acho interessante registrar aqui essa primeira versão.
Este plano é baseado nos seguintes pilares:
- Cupons semestrais do tesouro direto
- Mudança para alguma cidade com custo de vida menor, usando o aluguel do meu apartamento para pagar aluguel lá e ainda sobraria algum dinheiro
Plano de renda passiva
Estes são os números que andei mastigando:
Yield | R E N D A | % | ||||
origem | valor | anual | anual | mensal | Carteira | Renda |
TD IPCA 2035 | 330000 | 4% | 13200 | 1100,00 | 15,1% | 13,7% |
TD IPCA 2050 | 330000 | 4% | 13200 | 1100,00 | 15,1% | 13,7% |
TD PRE 2027 | 330000 | 4% | 13200 | 1100,00 | 15,1% | 13,7% |
FII | 300000 | 7,4% | 22327,25 | 1860,60 | 13,7% | 23,2% |
Ações | 150000 | 3% | 4500 | 375,00 | 6,8% | 4,7% |
Aluguel | 750000 | 4% | 30000 | 2500,00 | 34,2% | 31,1% |
TOTAL | 2190000 | 96427,25 | 8035,60 | |||
Renda fixa | 45,2% | 41,1% | ||||
Renda variável | 20,5% | 27,8% | ||||
Outros | 34,2% | 31,1% | ||||
Taxa de retirada | 4,4% |
Este fluxo me garantiria uma renda média de 8000 reais por mês. Todas taxas de retirada prevem o não-consumo do principal do investimento e correção pela inflação.
- Tesouro direto
Taxas no dia em que comecei a escrever este post (16/08/2017):
Ativo | Vencimento | Taxa de Juros | Pagamento |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2035 (NTNB) | 15/05/2035 | 5,14% | maio e novembro |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2050 (NTNB) | 15/08/2050 | 5,17% | Fevereiro e agosto |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2027 (NTNF) | 01/01/2027 | 10,04% | Janeiro e Julho |
Esta parte está bem explicada nesse vídeo, a partir do minuto 15:
Muito importante notar que uma parte dos juros seria usada para se reinvestir em mais títulos, para proteger o principal da inflação. Por exemplo o Tesouro Prefixado 2027 pagaria 10% ao ano de juros, mas eu só retiraria 4%, reinvestindo o restante. Nos meses de recebimento o excesso de dinheiro seria colocado em algum investimento com liquidez para uso no mês posterior.
- FIIs
Considerei um DY mensal de 0,60%, onde os aluguéis seriam reajustados pela inflação. Meu DY atual está em 0,62% mais ou menos.
- Ações
Seriam retirados somente os dividendos. Até acho que consigo mais que 3% mas nesse primeiro momento vou ser mais conservador.
- Aluguel
Pesquisei preços de imóveis parecidos na minha região e fiz um desconto de 15% por causa do IR. Aluguel seria reajustado pela inflação.
Se tudo correr bem, consumindo 4,4% anuais dessa carteira teórica eu teria uma renda suficiente para suprir minhas necessidades, enquanto a outra carteira (já já chegaremos lá) continuaria crescendo livre.
Mas e se algo der errado ?
Mas e se algo der errado ?
Plano B
Em meses de maiores despesas ou períodos de escassez dessas fontes de renda, entraria em ação esta carteira backup:
Yield | R E N D A | % | ||||
origem | valor | anual | anual | mensal | Carteira | Renda |
TD SELIC | 100000 | 4% | 4000 | 333,33 | 10,0% | 8,9% |
Fundos+Prev | 500000 | 5% | 25000 | 2083,33 | 50,0% | 55,6% |
RF | 250000 | 4% | 10000 | 833,33 | 25,0% | 22,2% |
Exterior | 100000 | 4% | 4000 | 333,33 | 10,0% | 8,9% |
Ouro | 50000 | 4% | 2000 | 166,67 | 5,0% | 4,4% |
TOTAL | 1000000 | 45000,00 | 3750,00 | |||
Renda fixa | 35,0% | 31,1% | ||||
Renda variável | 15,0% | 13,3% | ||||
Outros | 50,0% | 55,6% | ||||
Taxa de retirada | 4,5% |
Este fluxo me geraria em média 3750,00 mensais, equivalente a 47% da renda principal. Mais uma vez a idéia seria retirar somente juros acima da inflação, deixando o principal intacto.
- Tesouro SELIC: famosa reserva de emergência, seria o primeiro a ser tocado em caso de necessidade
- Fundos+Previdencia Privada: diversos fundos multi-mercado de médio e longo prazo
- Renda Fixa: títulos privados com duração de 3 anos distribuídos ao longo tempo. Em anos ruins eu não reinvestiria uma parte deles.
- Exterior e ouro: apliquei a famosa taxa de 4%
Esta carteira me cobriria bem em alguns casos bem prováveis:
- Dificuldade de achar inquilino: esta carteira cobriria essa renda e ainda sobraria algo pro bolo continuar crescendo. Aluguel seria 31% da minha renda, enquanto esta carteira equivale a 47%.
- FIIs e ações com problemas reduzindo os dividendos pela metade: mesmo assim a carteira backup daria conta do recado e ainda sobraria. Poderia até cobrir a renda de aluguel ao mesmo tempo se precisasse, porém aí não sobraria nada.
Ou seja, mesmo que num certo período minhas despesas aumentem 47% ou cerca de metade da minha carteira principal falhe eu ainda poderia me virar com essa carteira backup. Sem comentar que eu poderia cortar gastos e nem precisar recorrer a essa carteira. Aquela viagem pra Europa poderia ser trocada por uma viagem mais barata, trocar de carro poderia esperar mais um ano e coisas assim.
Eu também pretendo gerar alguma renda através de algum trabalho que me agrade, retardando ao máximo a necessidade de recorrer a esta carteira para pagar minhas contas.
Em condições normais (retirada somente da carteira principal) a taxa de retirada geral das duas carteiras seria 3% ao ano. Não gosto de comparar com os tal 4% porque essa é a TSR baseada no mercado americano. Portanto não sei se é alta ou baixa, diria que é adequada para a renda almejada.
Eu também pretendo gerar alguma renda através de algum trabalho que me agrade, retardando ao máximo a necessidade de recorrer a esta carteira para pagar minhas contas.
Em condições normais (retirada somente da carteira principal) a taxa de retirada geral das duas carteiras seria 3% ao ano. Não gosto de comparar com os tal 4% porque essa é a TSR baseada no mercado americano. Portanto não sei se é alta ou baixa, diria que é adequada para a renda almejada.
Plano C
Mas e se a coisa ficar feia mesmo ?
- Aluguel baixando ou faltando, ações e FIIs sem pagar dividendos por vários anos: não restaria outra alternativa senão vender ativos, fazer retiradas acima da inflação e comprometer o principal dos investimentos.
- Governo dando calote nos títulos do Tesouro: neste cenário Mad Max, eu estaria morando no interior, com espaço para plantar e criar alguns animais para me alimentar. Ainda teria uma reserva em ouro e moeda estrangeira para complementar.
Não faço questão de deixar dinheiro para herdeiros. Prefiro investir em boa educação para gerar oportunidades com as quais eles enriquecerão sozinhos e quem sabe até me ajudarão se eu precisar. Nesse processo gerarão riqueza por si mesmos, melhorando um pouco o mundo a seu redor. Por isso não me preocupa consumir o principal do investimento por algum tempo se for preciso.
É claro que existe risco. Mas nessa vida nada é garantido. Você pode trabalhar até os 70 anos, juntar 10 milhões de dólares e no dia seguinte sofrer um acidente ou ataque cardíaco, sem aproveitar nenhum fruto do seu trabalho.
Para diminuir o risco de acabar o dinheiro (eliminar é impossível, mesmo trabalhando até 70 anos) quero ter ainda uma margem de segurança. Por este plano eu precisaria ter aplicado 2,44 milhões. Isso equivale à conta de número mágico mais simples que vemos por aí, aquela baseada na taxa de 4%: 8000 x 12 x 25 = 2,4 milhões. Conforme meu post sobre cálculo do número mágico, vou arredondar isso para 3 grandes sabugos.
Pontos em aberto
Certas coisas eu ainda não sei exatamente como tratar:
- Apartamento: se valeria mais a pena vender e alugar ou comprar em outro lugar, é um capítulo à parte; por questão de simplicidade deixei essa questão de lado nessa primeira versão da estratégia
- Reinvestimento dos títulos: só Deus sabe que taxas eu pegaria no reinvestimento semestral e principalmente no vencimento de cada título
- Impostos: os primeiros cupons do tesouro seriam mais taxados; ainda que após 2 anos caísse na faixa de 15%, é dinheiro que não ficará lá rendendo juros compostos, mostrando ineficiência do ponto de vista financeiro/matemático e enchendo os bolsos dos nossos infames governantes
- Alocação ideal dos ativos: basicamente eu parti do aluguel e vendo que daria cerca de 1/3 da renda almejada, joguei outro terço pra TD e outro para dividendos de ações e FIIs
- Margem de segurança: onde alocar, pois aqui só considerei o básico (2,4 sabugões)
- Renda mensal pra que ? Como assalariado sempre fui organizado e nunca vivi de contra-cheque em contra-cheque, então não sei até que ponto vale a pena pagar o preço da ineficiência comentada acima só pela conveniência de ter dinheiro garantido pingando na conta corrente com frequência.
Por conta desse último ponto eu ainda quero pesquisar, mastigar mais números e tentar viabilizar uma estratégia conforme o modelo 2 mencionado no início do post.
É um trabalho em progresso. Críticas e sugestões são bem vindas. Feliz IFAP !