100 dias sem pisar num escritório,
participar de conferências, reuniões improdutivas, fazer
malabarismo com várias tarefas “urgentes”, “importantes” e
conflitantes entre si, responder e-mails a toque de caixa, ter que
ouvir pacientemente os desejos e caprichos de clientes e gerentes.
100 dias sem ver a cor de um
contra-cheque.
Não significa 100 dias sem problemas
ou sem stress. O que eu menos fiz vou vagabundar. Nesse período
trabalhei como carpinteiro, chofer, babá, encanador, secretária,
office boy, pedreiro, psicólogo, doméstica e sei lá mais o que.
O que mudou ?
Parti para um auto-exílio e vim parar numa pequena cidade na
Europa. Não importa exatamente onde nem como pois o foco do blog não
é cultura ou imigração e sim finanças pessoais e a jornada rumo à
independência financeira. Pretendo ficar por aqui alguns anos e
voltar pro Brasil, a menos que nesse meio-tempo o fascismo de
esquerda ou direita tenha “venezuelizado” o país. O motivo da
mudança foi expor minha filha a outro idioma e poder viajar com
certa facilidade pelo velho continente, coisas que estando no Brasil
ficariam bem mais difíceis. Tirar cidadania é a cereja do bolo –
um plano de fuga caso um dia precise.
Foi uma mudança bem cansativa. No
começo dos preparativos eu ainda estava trabalhando normalmente
então imaginem: preparar mudança internacional de mala e cuia e
ainda ter que enfrentar trânsito pra passar 9 horas por dia
pressionado dentro de uma sala de reuniões. Quem acompanha o blog
deve ter percebido como as postagens minguaram.
Chegando aqui tive, como previsto,
grande dificuldade pra alugar apartamento. Tive que diminuir
exigências e por fim consegui alugar uma casinha meio afastada da
cidade que veio com alguns probleminhas, os quais só descobri depois
de entrar. Arrumar eu mesmo ou procurar alguém que o fizesse tomou
bastante tempo também. Lembro de ter passado um sábado quase
inteiro pra trocar a fechadura duma porta que estava prestes a se
fechar trancando alguém pra dentro. E por aí vai.
Levo um estilo de vida sem nenhum
glamour. Moro numa rua pequena, habitada por gente humilde e
aparentemente sem muita instrução. Todos são daqui, ninguém tem
pinta de gringo. Não tenho carro e isso nos obriga (sob protestos da
patroa) a andar de ônibus ou debaixo do sol escaldante do verão pra
fazer as coisas do dia a dia.
Meu custo de vida continua o mesmo do
Brasil, mesmo levando esse estilo de vida mais humilde. Lá tudo era
mais confortável, sem dúvida. Porém replicar aqui aquele estilo de
vida me levaria à falência. Tem sido uma experiência de
auto-conhecimento. Estou vendo o quão pobre consigo ser sem dar nos
nervos. Algumas coisas me irritam – a cidade muito pequena, a falta
de mobilidade e de identificação com o povo do lugar. Não é
exatamente o que eu sonhei para um pós-IF mas vou ter que engolir
por enquanto, ficar pianinho pelo menos nesse primeiro ano.
O que não mudou ?
IF não é a solução de todos os
males, eu já sabia disso. E posso confirmar que não é mesmo. Você
se livra de vários problemas e vários novos aparecem. Alguns você
não via pois estava ocupado com o seu emprego. Outros já existiam
mas pelo mesmo motivo você não tinha clareza de sua proporção. Já
passei por algumas semanas onde eu quis mesmo enfiar a cara no
trabalho pra esquecer dos problemas em casa. Agora não dá mais, não
tenho mais esse esconderijo.
Por causa da escolha que fiz (mudança
internacional), meu custo de vida continua o mesmo.
Reclamações da patroa continuam do
mesmo jeito, porém tenho que ouvir com mais frequência por estar
mais tempo em casa.
As contas continuam chegando – água,
gás, aluguel, telefone, internet, cartão de crédito, etc.
As pessoas te tratam do mesmo jeito –
bem ou mal.
Mas valeu a pena ?
Hell YES !
Já vi isso em alguns lugares e vou
repetir aqui: prefiro um dia ruim vagabundando do que um dia bom
trabalhando numa empresa.
Eu sei que um dia ruim como vagabundo tem
conserto, tem como e vai melhorar, pois agora tenho tempo pra lidar
com os problemas fora do trabalho e pra desenvolver meus projetos
pessoais.
Já um dia bom no escritório é só isso – logo vem mais
um projeto estressante, um cliente insuportável, um gerente sem
noção, uma meta absurda pra cumprir.
Como as pessoas reagem ?
“Aposentado” é uma palavra muito
forte, nem pra mim mesmo eu digo isso, quanto mais pra amigos ou pra
alguém na fila do mercado. Pra mim estou num sabático por tempo
indeterminado.
Pra quem perguntar digo que sou
freelancer em TI, trabalho em casa pela internet. Não é mentira,
tenho mesmo vontade de fazer isso. E pra quem não perguntar não
falo nada e pronto.
IF é um assunto tabu, não adianta. Não dá pra comentar com ninguém, só aqui na blogosfera mesmo. É pior que o cidadão se assumir homossexual. Enfrenta-se mais preconceito, ódio e incompreensão.
IF é um assunto tabu, não adianta. Não dá pra comentar com ninguém, só aqui na blogosfera mesmo. É pior que o cidadão se assumir homossexual. Enfrenta-se mais preconceito, ódio e incompreensão.
E as finanças ?
Por enquanto o patrimônio tem
crescido. Só não cresceu mais pois tive muitas despesas pra fazer a
mudança e se estabelecer. Ainda estou bem no começo, deixa rolar
mais uns meses, e ano que vem vejo se preciso rebalancear. Lembrando
que estou gastando em euro tendo a maior parte da carteira em reais,
mas assumo esse risco pois serão apenas alguns poucos anos. Estou
preparado pra continuar nessa mesmo com mais alguma valorização do
euro.
O que eu recebo de aluguel e dividendos
de FIIs e ações é suficiente pra cobrir meus custos fixos. O resto
tenho retirado da minha reserva em euros. A partir do ano que vem vou
por em prática minha estratégia mirabolante pra viver de renda passiva.
Próximos passos
Ainda tenho umas coisinhas pra resolver
aqui mas enfim retomei meus exercícios e agora é partir pra mais um
monte de coisas que ficaram pendentes:
- projetos pessoais, incluindo este blog
- vida social
- fazer freelances de vez em quando
- cursos de desenvolvimento web, música, carpintaria, culinária
- explorar fontes de renda passiva ou semi-passiva via internet
- por a leitura em dia (pensando em assinar Amazon Prime)
- meditação
Com tanta coisa pra fazer, não sei
como tinha tempo pra ter um emprego.